Monitoramento do setor externo.

Setor externo

Mesmo com o encarecimento dos financiamentos externos, a partir do segundo trimestre, o volume de capitais estrangeiros recebidos pelo Brasil não foi afetado de modo relevante. Na realidade, houve recomposição de fluxos, com o incremento dos influxos direcionados ao mercado doméstico de títulos e ações e com redução da participação de empréstimos e títulos colocados no mercado internacional. O resultado deficitário do mercado de câmbio contratado em 2013 é explicado, em boa medida, pela elevação de despesas de rendas e serviços e reflete a ampliação de renda interna e o direcionamento de parcela da demanda ao exterior.

Nesse ambiente, o mercado de câmbio do país apresentou, ao longo do ano, níveis elevados de volatilidade em meses específicos. Com o objetivo de garantir funcionamento adequado dos mercados, o BCB anunciou, em agosto, programa de oferta de proteção por meio de swap cambial e venda de divisas com compromisso de recompra. A instituição realizou leilões diários com frequência e volumes mínimos definidos. Esses instrumentos – swap cambial e venda de moeda estrangeira com recompra – não afetaram o estoque de reservas internacionais no conceito liquidez.

Ao final de dezembro, as reservas internacionais no conceito liquidez totalizaram US$375,8 bilhões, redução de US$2,8 bilhões em relação a dezembro de 2012. O estoque de linhas com recompra, incluído nas reservas internacionais no conceito liquidez, totalizou US$17 bilhões. A receita de remuneração das reservas somou US$3,4 bilhões no ano, enquanto as variações por preços e paridades reduziram o estoque em US$4,3 bilhões e US$4,1 bilhões, respectivamente. No conceito caixa, o estoque de reservas atingiu US$358,8 bilhões em dezembro, decréscimo de US$14,3 bilhões em relação a dezembro de 2012.

Reservas Internacionais – conceitos caixa e liquidez

As reservas internacionais são os valores que o BCB possui em moeda estrangeira, ouro e outros ativos de alta liquidez. Ter um bom estoque de reservas dá credibilidade externa ao país, pois mostra que é possível honrar seus pagamentos no exterior.

Há duas formas de calcular as reservas. Pelo conceito “caixa”, considera-se como reservas os recursos de liquidez muito elevada, ou seja, que podem gerar caixa para o país assim que o governo quiser, praticamente sem perda de valor, como moeda estrangeira corrente.

No conceito “liquidez internacional”, consideram-se reservas, além dos ativos de elevada liquidez, os monetizáveis em um prazo maior. Atualmente, esses ativos de menor liquidez compõem uma parte pequena do total das reservas internacionais brasileiras, no conceito liquidez.

Balanço de pagamentos

Em 2013, houve redução no superavit da balança comercial brasileira, com redução de exportações e aumento de importações. O deficit em transações correntes do balanço de pagamentos aumentou, em relação a 2012, alcançando US$81,4 bilhões, equivalentes a 3,66% do PIB, em 2013. O movimento é explicado pela contração do superavit comercial e pela elevação nas despesas líquidas de serviços, como viagens internacionais. O financiamento do deficit em conta corrente permaneceu centrado em capitais de longo prazo, principalmente investimentos estrangeiros diretos (IED) e títulos de renda fixa negociados no mercado doméstico.

A balança comercial, fonte relevante para o financiamento do balanço de pagamentos, registrou superavit, ou seja, o valor das exportações foi maior que o das importações, mostrando desempenho do comércio exterior brasileiro abaixo do verificado no ano anterior. As exportações de bens acumularam redução de 0,2% em 2013, comparativamente a 2012, reflexo do baixo dinamismo da demanda global e do comportamento do setor de petróleo, que tem concentrado seus investimentos nos novos poços do pré-sal. As importações de bens apresentaram elevação de 7,4%, na mesma base de comparação, influenciadas, na ordem, por maiores compras de petróleo, matérias-primas e produtos intermediários e bens de capital.

A expansão da atividade doméstica, o nível da taxa de câmbio e o volume de comércio externo contribuíram para a elevação das despesas líquidas de serviços. Destacaram-se as expansões nas despesas líquidas com viagens internacionais e transportes. As remessas líquidas de lucros e dividendos cresceram 8% em relação a 2012, enquanto os gastos com juros tiveram aumento de 20,2%, acompanhando a evolução do estoque da dívida externa. A receita líquida de transferências unilaterais elevou-se 18,2%, retomando nível semelhante ao que precedeu a crise financeira internacional de 2008/09.

Na conta financeira, foi mantida a preponderância dos investimentos estrangeiros diretos (IED) como principal fonte de financiamento para o balanço de pagamentos do Brasil. Os IED atingiram US$64 bilhões em 2013, equivalentes a 2,88% do PIB, distribuídos entre diversos setores da atividade econômica, destacando-se extração de petróleo e gás, comércio, serviços financeiros e transportes.

Os fluxos líquidos de investimentos estrangeiros em carteira contribuíram para o financiamento do balanço de pagamentos. Em 2013, os investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa e em ações no país totalizaram ingressos líquidos de US$25,4 bilhões e US$11,9 bilhões, respectivamente. A aceleração do ingresso de recursos externos dirigidos aos títulos de renda fixa no país ocorreu após a redução da alíquota de Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros, ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), de 6% para 0%, efetivada em junho.

As captações líquidas sob a forma de empréstimos e títulos de renda fixa negociados no mercado internacional, considerando-se apenas os instrumentos de médio e de longo prazo, proporcionaram amortizações líquidas de US$2,3 bilhões em 2013. A razão entre captação bruta de novos recursos e amortizações referentes a dívidas contraídas no passado resultaram em taxa de rolagem de 94%.

Apesar da elevação do deficit em conta-corrente e das mudanças na liquidez internacional, o país não encontrou dificuldades em termos de financiamento. O estoque de US$375,8 bilhões de reservas internacionais no conceito liquidez garantiu ambiente confortável em que o deficit em conta corrente foi financiado integralmente por capitais de longo prazo, principalmente IED. Na estrutura de passivos, os estoques de investimento, em oposição aos de endividamento externo, permanecem preponderantes.

Câmbio

Em regime de flutuação cambial, a taxa de câmbio nominal do real frente ao dólar norte-americano atingiu R$2,34/US$ ao término de 2013 – desvalorização de 14,6% em relação ao final de 2012.

Indicadores de sustentabilidade externa

Em que pese a instabilidade da conjuntura econômica internacional, a percepção quanto à solidez das contas externas brasileiras manteve-se favorável. Considerando-se o acumulado em doze meses, a posição estimada para dezembro de 2013 para o serviço da dívida externa aumentou 38,4% em relação a dezembro de 2012. As exportações de bens recuaram 0,2% no período, e a razão entre esses indicadores aumentou para 30,9%. A dívida bruta e o PIB em dólares recuaram 0,3% e 1%, respectivamente, propiciando aumento da relação dívida bruta/PIB, de 13,9% para 14,0%.

A posição credora da dívida líquida foi reduzida no período, e a relação dívida líquida/PIB passou de -4% para -3,9%. As relações entre dívida bruta e exportações, bem como dívida líquida (superavitária) e exportações, mantiveram-se estáveis em 1,3 e -0,4, respectivamente. Adicionalmente, a razão entre as reservas internacionais no conceito liquidez e a dívida bruta passou de 121% para 120,4%.