A economia mundial iniciou o ano sob forte estresse causado pela ameaça de ruptura da Área do Euro. Na época, os analistas estavam bastante pessimistas quanto à permanência da Grécia na união monetária, devido à alta dívida do país, aos seguidos rebaixamentos das notas de crédito soberano e ao descumprimento das metas do programa de ajuste com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com a Comunidade Europeia.
O sistema bancário europeu encontrava-se fortemente exposto aos títulos de dívida dos países da periferia da Área do Euro, o temor era de que a saída da Grécia da união monetária ou um calote desordenado levassem a uma crise bancária sem precedentes, mergulhando a Europa e o mundo novamente na recessão.
Já os Estados Unidos da América (EUA) vinham mostrando recuperação animadora nos principais indicadores de produção e de consumo, levando muitos analistas a preverem crescimento vigoroso da economia americana em 2012. Entretanto, o mercado imobiliário daquele país ainda se encontrava bastante deprimido e o endividamento das famílias e do setor público permanecia elevado. A taxa de desemprego mantinha-se bastante alta, apesar das ações do banco central americano (Federal Reserve – FED) e da aceleração do crescimento econômico, o que sinalizava que a recuperação poderia ter fôlego curto.
Os países emergentes vinham resistindo bem à situação desfavorável, com as principais economias desse grupo mostrando manutenção do ritmo de crescimento ou desaceleração moderada. Previa-se que a economia da China passaria por desaquecimento controlado da atividade econômica, haja vista a desaceleração do comércio internacional, em especial a diminuição das exportações para a Europa.
As ações do Banco Central Europeu (BCE) que haviam sido implementadas no final de 2011 – em especial os leilões de liquidez de longo prazo (LTROs) – foram se mostrando eficazes em reduzir o pânico na região, afastando os temores de uma crise bancária. Entretanto, o impacto das medidas de ajuste fiscal nos países endividados, o processo de desalavancagem dos bancos e a crise de confiança a que foram submetidas as economias periféricas da região tiveram como consequência a recessão em quase todo o continente.
O BCE realizou leilões de liquidez de longo prazo para injetar mais recursos na economia da região. O BCE emprestou dinheiro aos bancos da Área do Euro a baixas taxas de juros e com pagamento a longo prazo, de forma que esses bancos pudessem pagar suas dívidas e emprestar mais dinheiro. A medida teve como objetivo evitar uma crise bancária, ao mesmo tempo em que ajudou no aquecimento da economia.
Para realizar o ajuste fiscal, foi adotado um conjunto de medidas para que os países da região diminuíssem seus déficits.
A desalavancagem ocorre quando uma pessoa, empresa ou país diminuem suas dívidas. No caso dos bancos europeus, no cenário de crise, eles passaram a captar menos recursos e, com menos dinheiro, passaram a emprestar menos. Assim, ficam menos endividados, o que diminui seus riscos. Esse tipo de comportamento é comum durante crises.
Nessa época, começaram a surgir preocupações dos países emergentes com o aumento dos fluxos de capitais internacionais, impulsionados pelo aumento de liquidez promovido por bancos centrais de importantes economias desenvolvidas. Além dos excessivos ingressos de capital e das pressões para apreciação das moedas locais, os principais temores diziam respeito ao aumento nos preços dos alimentos e da energia e aos seus impactos sobre a inflação.
No segundo trimestre, a economia americana começou a desacelerar devido a seus problemas estruturais, o que, combinado à trajetória de “pouso suave” da economia chinesa e à recessão europeia, induziu a uma queda no crescimento econômico e a um relativo arrefecimento nas pressões inflacionárias nos países emergentes. Esse cenário de desaceleração global e de redução nas pressões inflacionárias se consolidou ao longo do terceiro trimestre, o que levou os principais bancos centrais das economias avançadas a tomarem novas medidas de aumento da liquidez.
O quarto trimestre iniciou-se com persistência do cenário de baixo crescimento global, apesar da redução de risco de ruptura da Área do Euro, sinalizando que a superação dos problemas econômicos deve ser lenta e gradual. Entretanto, ao final do período, alguns indicadores, principalmente da economia chinesa, trouxeram expectativa menos pessimista.
Dois fatores cruciais para a retomada do crescimento global não se encontram ainda resolvidos: a desalavancagem do sistema financeiro e a redução do endividamento soberano e das famílias nas economias desenvolvidas. Além disso, os instrumentos de política monetária dos bancos centrais desses países parecem ter eficácia cada vez menor, inclusive os não convencionais, representando um desafio para a gestão da política econômica.
Na Europa, encontra-se pendente a consolidação de novo arcabouço institucional que favoreça a convergência nas políticas fiscais dos países e a harmonização das economias no médio e longo prazo. Nesse cenário, 2012 encerrou-se com riscos de eventos extremos – como uma crise bancária ou uma recessão global – menores do que no início do ano, mas também com a perspectiva de um período de baixo crescimento bem mais prolongado.
Os últimos dias do ano foram marcados pela falta de acordo entre as lideranças políticas americanas sobre o chamado fiscal cliff. Com isso, agregam-se incertezas adicionais às perspectivas de crescimento para aquele país e para o crescimento global.
Fiscal cliff ou abismo fiscal refere-se ao fim de vários incentivos fiscais, como desonerações tributárias, e à redução automática dos gastos governamentais por excesso de endividamento, previstos para ocorrerem simultaneamente na primeira metade de 2013, e suas consequências sobre a economia americana.