O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou inflação acumulada de 6,41% em 2014, abaixo do limite superior da meta, de 6,5% ao ano (a.a.), estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No início do ano, a elevada variação dos índices de preços ao consumidor e os mecanismos formais e informais de indexação contribuíram para que a inflação mostrasse resistência ligeiramente mais forte que a projetada. A persistência desse processo levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a aumentar a taxa básica da economia (taxa Selic) nas reuniões de janeiro, de fevereiro e de abril, a qual atingiu 11% a.a.
A partir da reunião de maio, o Copom deu início a um período de manutenção da taxa Selic, considerando que os efeitos do processo de elevação da taxa básica de juros sobre a inflação ainda estavam, em parte, por se materializar. Esse cenário se manteve estável até outubro, quando o Comitê avaliou que, entre outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia havia tornado menos favorável o cenário para a inflação. Nesse contexto, o Copom retomou o movimento de alta da taxa Selic, que atingiu 11,75% a.a. ao final de 2014.
Para o Copom, o fato de a inflação se encontrar em patamares elevados reflete, em parte, a ocorrência de dois importantes processos de ajuste de preços relativos na economia: o realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e o realinhamento dos preços administrados em relação aos livres.
O Banco Central (BC) trabalha com o horizonte de convergência da inflação para a meta de 4,5% a.a. até o final de 2016. Os ganhos decorrentes da esperada convergência podem ser estendidos por vários anos, podendo, inclusive, ter caráter de permanência.
O BC publicou ao longo do ano uma série de documentos que permitem à sociedade acompanhar com transparência e precisão o cenário econômico brasileiro e internacional. O Relatório Trimestral de Inflação faz monitoramento sistemático e contínuo dos fundamentos macroeconômicos e das expectativas para a economia brasileira, bem como do desempenho da economia internacional. Esse documento ajuda empresas e governo a planejarem sua atuação, ao traduzir análises detalhadas do Copom sobre a situação econômica doméstica e internacional, incluindo previsões sobre a inflação, sobre o crescimento da economia e sobre o balanço de pagamentos.
O BC também analisa a atividade econômica dos estados brasileiros, publicando a cada três meses o Boletim Regional. Divulgado sempre em uma capital diferente, o documento traz dados detalhados sobre os diversos segmentos econômicos das cinco regiões brasileiras. Em 2014, o Boletim foi divulgado em Curitiba (fevereiro), no Recife (maio), no Rio de Janeiro (agosto) e em Florianópolis (novembro).
No trabalho mais intenso de comunicação e transparência com investidores, com acadêmicos e com o público em geral, o Sistema de Expectativas de Mercado é um dos instrumentos mais relevantes do BC. A ferramenta coleta diariamente as opiniões de analistas de mais de cem instituições privadas sobre a evolução futura de indicadores econômicos importantes. Os dados são levados em consideração na decisão de política monetária, direta e indiretamente, ao alimentarem os modelos econômicos de cenário de mercado do BC, e servem de base para o relatório Focus – Distribuições de Frequência, que mostra a evolução das expectativas de mercado para o IPCA do ano corrente e do próximo ano e da Taxa Selic em doze meses, com intervalos de um e de três meses.
As operações de mercado aberto são o principal instrumento utilizado pelo BC para regular a disponibilidade e o custo das reservas bancárias para o alcance da meta da taxa definida pelo Copom. Essas operações consistem na compra ou venda, de forma definitiva ou com o compromisso de revenda ou recompra (operação compromissada), no mercado secundário, de títulos públicos federais custodiados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
Em 2014, o BC continuou a lidar com excedentes de liquidez no sistema bancário e realizou operações de venda de títulos com compromisso de recompra de curto prazo, de um a quarenta dias úteis, e de prazos mais longos, de três e seis meses. O saldo médio diário das operações de curto prazo foi de R$599,8 bilhões, e o das operações de três e seis meses, de R$157,0 bilhões.
O registro e a liquidação dessas operações são realizados no Selic. Trata-se de um sistema eletrônico desenvolvido e administrado pelo BC que também se destina à custódia de títulos escriturais de emissão do Tesouro Nacional. O sistema é depositário central de 99% da dívida pública mobiliária federal interna.
Considerando-se o universo das operações registradas no Selic – em que se inserem o retorno das compromissadas, as operações de redesconto do BC e as emissões primárias de títulos –, as médias diárias foram superiores a R$2,2 trilhões e a 15 mil operações. No tocante às ofertas públicas (leilões de títulos) da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), foram processados 545 eventos no ano, que movimentaram a soma de R$484,4 bilhões.
Responsável pela execução das políticas monetária e cambial, o BC realiza, desde agosto de 2013, programa de leilões de swap e de venda de dólares, com compromisso de recompra, para evitar oscilações inesperadas da taxa de câmbio.
O programa de leilões de swap foi mantido ao longo de 2014, com a realização de ofertas diárias em montante equivalente a US$200 milhões em valor nocional. Ao final do ano, a posição do BC nesse instrumento (passiva em câmbio) alcançava valor equivalente a US$109,8 bilhões, tendo sido realizados 448 leilões no ano (US$145,5 bilhões), dos quais duzentos para a rolagem de vencimentos (US$95,1 bilhões).
As operações de swap cambial do BC consistem na compra ou venda de um contrato-padrão negociado na BM&FBovespa, chamado de Contrato de Swap Cambial com Ajuste Periódico Baseado em Operações Compromissadas de Um Dia (SCS).
O BC também realizou leilões de venda de dólar spot com compromisso de recompra, também chamados de leilão de linha, utilizados no mercado de câmbio quando há redução da liquidez. Em 2014, foram realizados 22 leilões, com um montante ofertado de US$75,4 bilhões, nos quais foram aceitos US$15,8 bilhões.
Em 2014, o BC publicou 35 trabalhos para discussão, na maior parte nas áreas de economia e de finanças, desenvolvidos por pesquisadores da instituição. Um dos objetivos dessas pesquisas é propiciar bases mais sólidas para o processo de tomada de decisões referentes à política monetária e à estabilidade financeira, por meio da disponibilização de modelos econômicos e ferramentas de análise de alta qualidade. Como exemplo, destaca-se o artigo Um Conto de Três Hiatos: Desemprego, Utilização da Capacidade Instalada da Indústria e Produto, que estuda o impacto conjunto do setor de serviços e da indústria sobre a dinâmica da inflação. O trabalho venceu o Prêmio Ministério da Fazenda de Economia, na categoria Macroeconomia, Economia Monetária e Finanças. Outro destaque foi o artigo Loan Pricing Following a Macroprudential within-Sector Capital Measure, que examina a eficácia das políticas macroprudenciais no Brasil. O trabalho ganhou o Prêmio Rodrigo Gomez 2013, outorgado pelo Centro de Estudos Monetários Latino-americanos (Cemla).
As reservas internacionais brasileiras somaram em 2014 o montante de aproximadamente US$375 bilhões. Gerir com competência esses ativos, que ajudam o país a se proteger de turbulências financeiras internacionais, exige do BC constante atenção aos riscos financeiros e não financeiros envolvidos no negócio.
Nesse sentido, o BC rebalanceou os investimentos das reservas internacionais, adequando os objetivos da instituição à sua visão de longo prazo, à situação do mercado e aos aspectos operacionais. Na gestão das reservas, o BC busca uma estratégia de diversificação e de redução da exposição cambial da dívida externa, sem abrir mão de liquidez e de segurança e sempre seguindo as preferências de risco estabelecidas pela instituição.
O BC consolidou também uma agenda de cooperação com outros bancos centrais e instituições multilaterais para a modelagem de riscos financeiros associados ao balanço e à alocação de investimentos. Os principais focos dessa agenda são os trabalhos de alocação estratégica das reservas internacionais e o desenvolvimento de modelos de teste de estresse.
Pelo quarto ano consecutivo, o BC recebe o prêmio Straight Through Processing - STP Awards, pelo alto índice de liquidação automática na movimentação das reservas internacionais. O prêmio, fornecido pelo Bank of New York Mellon, reflete a segurança e a eficiência no processo de liquidação das operações, o qual ocorre com apoio do Sistema de Administração das Reservas e com a utilização da mensageria da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT).
A evolução dos recolhimentos compulsórios nos últimos anos, a recente moderação na concessão de crédito, a manutenção da inadimplência em patamares baixos e o recuo no nível de risco no Sistema Financeiro Nacional (SFN) permitiram a adoção de medidas para aprimorar a liquidez na economia.
Bancos com Patrimônio de Referência (PR1) de, no mínimo, R$3 bilhões passaram a poder destinar até 20% de seus recolhimentos compulsórios sobre recursos à vista para operações de financiamento realizadas com base nos mesmos parâmetros de taxa, prazo e beneficiários do Programa de Sustentação do Investimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Antes, o PR1 mínimo exigido para essa prerrogativa era de R$6 bilhões.
No caso dos recolhimentos sobre recursos a prazo, o BC passou a remunerar com a Selic até 40% do total recolhido como compulsório. Com isso, os bancos passaram a poder utilizar até 60% da exigibilidade na compra de carteiras de crédito de outros bancos, na geração de financiamentos próprios de veículos comerciais leves ou
motocicletas ou, ainda, na concessão de empréstimos de capital de giro. No caso das novas operações de financiamento de veículos e de empréstimos para capital de giro, a dedução considera o incremento em relação à média praticada no primeiro semestre de 2014. Também são consideradas as letras financeiras que tenham sido adquiridas de instituições elegíveis, até o limite de saldo, que era deduzido até o dia 25 de julho de 2014. Além disso, foi ampliado de 58 para 134 o número de bancos considerados elegíveis a realizar cessões de crédito. Instituições com PR1 inferior a R$3,5 bilhões são agora consideradas elegíveis, sem restrições.